sábado, 25 de julho de 2009

Ruídos

Tenho sido atacado, nesses dias escusos, por meu passado em demasia. Cada lembraça me carrega para o fato ocorrido como se eu o repetisse, mais que repetisse, como se o celebrasse novo com todas as expectativas e ansieadades do momento fatual. Relembro sentimentos, alguns bons, alguns ruins; relembro exatamente como era a vida de outrora como se me encontrasse a vivê-la. Ouço músicas que não se apresentavam aos meus ouvidos há anos.

Faz tanto tempo e nem sei mais se é vida mesmo esse atrido caminhar em vão.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rascunho

Volto à rua da minha infância perdida. Procuro em toda reminiscência de memória da minha infância que não houve lembranças criadas pela imaginação dela que não há, procuro a todas as pessoas com quem não tive senão algum resquício de relação qualquer. Tanto não encontro o que não fui procurar quanto o que me não impediu de voltar à rua da minha infância perdida.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

João Pereira Coutinho

Trecho - ou se preferir, apenas duas perguntas - de entrevista com Vasco Pulido Valente à revista GQ:

[ João Pereira Coutinho ] Não sei se conhece aquele poema do Philip Larkin, o “Aubade”, em que ele acorda a meio da noite e sente a intimação da morte. Nunca tem esses momentos?

[ Vasco Pulido Valente ] Eu sou ateu.

[ João Pereira Coutinho ] Essa não foi a minha pergunta.

[ Vasco Pulido Valente ] A minha preocupação principal sobre a minha morte é não deixar as pessoas de que eu gosto penduradas. Eu tenho uma responsabilidade para com as pessoas que passa para além da morte. Não posso deixar as pessoas de que eu gosto com um cêntimo no bolso e um “agora arranjem-se”. A segunda preocupação é o processo de morrer. Eu já tive uma má experiência e se calhar até teria sido mais económico que eu tivesse morrido naquela altura. Tinha-me custado menos a mim, à família, às pessoas, a toda a gente.



Pra quem o não conhece aqui vão alguns links (sabem como é a preguiça, não?):
Wikipedia
Site oficial
Coluna na Folha on line

Correção tardia da postagem em 13/07/2009 às 08:49

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Café

Tardei em existir nesta segunda-feira sonolenta. Não fosse o café expresso forte e sem açúcar (sempre sem açúcar) de todas as manhãs ainda estaria imerso na indisposição do dia não querer ser dia, na procrastinação da existência nula.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Prosas para ninguém

Tenho escrito prosas a todos os desconhecidos do presente. Relembro lugares, situações distintas, expressões; e, em cada lembrança, analiso - com a riqueza de detalhes de que minha memória dispõe em alguns momentos - despido do fato das sensações da alma, as consequências da existência dessas pessoas impressas na minha personalidade de agora. Tento prever, obviamente sem sucesso, como serei amanhã e depois de amanhã.
Tenho escrito prosas a todos os seres da minha lembrança real e inventada.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O trem que corta a cidade

Vivo pelas manhãs ainda envolto à brisa torpe das madrugdas de embriaguez da alma. Ando pelas ruas iluminadas pelo sol voraz do dia novo, ruas cinzas - sempre cinzas - para os meus olhos. Com a visão turva observo todas as nuances de vidas outras que me cruzam o caminho.

O trem de ferro que corta a cidade baixa central atravessa e atrasa a toda a gente de obrigações diurnas.

Em cada olhar percebo uma alteração, um reflexo distorcido da minha e de tantas outra almas; alguns reflexos iluminados como a rua do dia novo; alguns outros alheios a tudo; reflexos obtusos da gente que se atrasa à passagem do trem, da gente que faz troça de observadores do mundo e os oculta; reflexos vis de toda a gente incapaz de aperceber a incoerência da própria existência.
Sobressai-se por vezes olhares soturnos carregados da angústia inconsciente do mundo a esvair-se.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Às segundas-feiras belas dos dias frios

Murmúrios de vidas expostos ao mundo, sons graves dos sonos desdormidos embalam e alegram as manhãs noturnas dos dias escuros. Mas não, não essa manhã, não; o sol não cansa e não descansa, a vida ruboriza-se dos dias de desapego passados como relâmpago; e todo o rubor se esvai com todos os sons das manhãs belas dos dias frios. As pessoas apenas existem alheias ao quando e onde acaba-se a vida.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A vida onírica

então, era um apartamento térreo. Havia um salão na entrada com uma escada que descia para um quintal com uma piscina e um corredor que terminava no seu quarto, no meio do corredor havia um outro quarto. Eu cheguei com um pessoal sem face, seus pais estavam sentados à mesa com mais algumas pessoas também sem face. Eu fui ao quarto do meio do corredor, talvez para me trocar para a piscina, não lembro direito, mas não chegamos a nadar e nem eu a me trocar . Depois sentamos todos à mesa e ficamos conversando algo que também não lembro o quê.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pescaria

"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares."

As Portas da Percepção - Aldous Huxley

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sobre a leveza dos dias

Tísico, pensava nos últimos versos das sonatas de natal, a letargia não lhe permitia pensá-las de maneira literária mas pensava-as e podia enxergá-las; qual um maestro desenhava suas formas no ar com o pouco de força que ainda restava...

Feriado

...ao menos a mixórdia dos dias desconexos e inacabados estava gradativamente a esvair-se.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Acometido por um sentimento de estar-se em débito com tudo, ansioso como se alguém esperasse uma resposta minha que não dou.