terça-feira, 27 de setembro de 2011

O início - Antônio Cândido

"Era uma tarde cinzenta de outono, Antônio acordou disposto e leu em pouco mais de duas horas a peça As Eruditas, de Molière. Se sentindo um tanto como Tremembó adiou mais uma vez o início da escrita que tanto o afligia nos últimos meses. Tinha ideais de escrever um livro, no entanto a descrença de si e alguns outros acontecimentos pouco relevantes, que ele usava como pretexto, mantinham sua caneta inquieta quando pousada sobre o papel e qualquer rabisco julgado por ele como pedante era somente o que existia ao final de cada tentativa. No dia seguinte tomou convicção de que nunca conseguiria transpor toda a escência do tal romance que lhe surgiu e passou a tomar vida - mesmo que ainda oculta no labirinto infinito de sua mente - ..."

domingo, 21 de agosto de 2011

Problemática na vida pós-moderna - Antônio Cândido

"A luz acabou. Acabou só no quarteirão. Toda a cidade vista da minha janela estava acesa. Fiquei dedilhando baixinho o violão por muito tempo esperando a luz voltar. Desisti e me deitei. Custei a pegar no sono por causa da cafeína. Assim que consegui adormecer uma luz invadiu o quarto e eu me pensei saindo do mundo onírico. Não pode ter amanhecido tão rápido, disse. A luz havia voltado assim que meu sono se estabeleceu, é claro que voltei a dormir, não conseguiria fazer muita coisa em estado de vigilia. Nem ele duraria muito se me levantasse."