sábado, 25 de julho de 2009

Ruídos

Tenho sido atacado, nesses dias escusos, por meu passado em demasia. Cada lembraça me carrega para o fato ocorrido como se eu o repetisse, mais que repetisse, como se o celebrasse novo com todas as expectativas e ansieadades do momento fatual. Relembro sentimentos, alguns bons, alguns ruins; relembro exatamente como era a vida de outrora como se me encontrasse a vivê-la. Ouço músicas que não se apresentavam aos meus ouvidos há anos.

Faz tanto tempo e nem sei mais se é vida mesmo esse atrido caminhar em vão.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Rascunho

Volto à rua da minha infância perdida. Procuro em toda reminiscência de memória da minha infância que não houve lembranças criadas pela imaginação dela que não há, procuro a todas as pessoas com quem não tive senão algum resquício de relação qualquer. Tanto não encontro o que não fui procurar quanto o que me não impediu de voltar à rua da minha infância perdida.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Café

Tardei em existir nesta segunda-feira sonolenta. Não fosse o café expresso forte e sem açúcar (sempre sem açúcar) de todas as manhãs ainda estaria imerso na indisposição do dia não querer ser dia, na procrastinação da existência nula.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Prosas para ninguém

Tenho escrito prosas a todos os desconhecidos do presente. Relembro lugares, situações distintas, expressões; e, em cada lembrança, analiso - com a riqueza de detalhes de que minha memória dispõe em alguns momentos - despido do fato das sensações da alma, as consequências da existência dessas pessoas impressas na minha personalidade de agora. Tento prever, obviamente sem sucesso, como serei amanhã e depois de amanhã.
Tenho escrito prosas a todos os seres da minha lembrança real e inventada.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O trem que corta a cidade

Vivo pelas manhãs ainda envolto à brisa torpe das madrugdas de embriaguez da alma. Ando pelas ruas iluminadas pelo sol voraz do dia novo, ruas cinzas - sempre cinzas - para os meus olhos. Com a visão turva observo todas as nuances de vidas outras que me cruzam o caminho.

O trem de ferro que corta a cidade baixa central atravessa e atrasa a toda a gente de obrigações diurnas.

Em cada olhar percebo uma alteração, um reflexo distorcido da minha e de tantas outra almas; alguns reflexos iluminados como a rua do dia novo; alguns outros alheios a tudo; reflexos obtusos da gente que se atrasa à passagem do trem, da gente que faz troça de observadores do mundo e os oculta; reflexos vis de toda a gente incapaz de aperceber a incoerência da própria existência.
Sobressai-se por vezes olhares soturnos carregados da angústia inconsciente do mundo a esvair-se.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Às segundas-feiras belas dos dias frios

Murmúrios de vidas expostos ao mundo, sons graves dos sonos desdormidos embalam e alegram as manhãs noturnas dos dias escuros. Mas não, não essa manhã, não; o sol não cansa e não descansa, a vida ruboriza-se dos dias de desapego passados como relâmpago; e todo o rubor se esvai com todos os sons das manhãs belas dos dias frios. As pessoas apenas existem alheias ao quando e onde acaba-se a vida.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A vida onírica

então, era um apartamento térreo. Havia um salão na entrada com uma escada que descia para um quintal com uma piscina e um corredor que terminava no seu quarto, no meio do corredor havia um outro quarto. Eu cheguei com um pessoal sem face, seus pais estavam sentados à mesa com mais algumas pessoas também sem face. Eu fui ao quarto do meio do corredor, talvez para me trocar para a piscina, não lembro direito, mas não chegamos a nadar e nem eu a me trocar . Depois sentamos todos à mesa e ficamos conversando algo que também não lembro o quê.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Pescaria

"Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias – tudo isso são coisas privadas e, a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares."

As Portas da Percepção - Aldous Huxley

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sobre a leveza dos dias

Tísico, pensava nos últimos versos das sonatas de natal, a letargia não lhe permitia pensá-las de maneira literária mas pensava-as e podia enxergá-las; qual um maestro desenhava suas formas no ar com o pouco de força que ainda restava...

Feriado

...ao menos a mixórdia dos dias desconexos e inacabados estava gradativamente a esvair-se.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Acometido por um sentimento de estar-se em débito com tudo, ansioso como se alguém esperasse uma resposta minha que não dou.