quinta-feira, 15 de abril de 2010

Diário de viagem - Antônio Cândido

"Como se a rotina atual fosse nula (e ela de fato é) vivo de reminiscências. Minha memória é meu mundo real. Do princípio da consciência enquanto ser consciente até o momento de minha derrota enquanto ser vivo; tudo quanto falhei em relação a expectativas dos dias atuais reviro como se novo aos meus olhos fosse. E hei de encontrar assim o caminho dos meus dias futuros em que estarei a revirar os dias atuais buscando significado concreto qualquer."

Trecho retirado de um dos diários de viagem de Antônio Cândido, escrito enquanto percorria de trem os 420km da vila onde nunca esteve até a cidade onde nunca estará.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Diálogos

Começo antecipando a notícia de que o sentido que supostamente pode ser pescado do que vem a ser escrito aqui não existe na realidade.
Não, calma lá companheiro, claro que existe. Se eu interpreto e chego a alguma conclusão, seja ela abstrata ou não, a sua inexistência é uma irrealidade.
Não me venha com alusões. Quero fatos.
Pois o que digo são fatos, não os compreende?
Não na minha inteireza de sentidos.
Ora, estás a balbuciar, não comece com suas intermitências subjetivas.
Se falo e ouço, sirvo a ti de interlocutor e bacamarte.
Faça o favor de voltar a realidade, pois? Estou aqui a manter uma conversa lógica e racional e você a conjecturar fantasias. Sejas digno, homem.
Pois recolha-te a ti não mais que primaveras e auroras, recolha-te ao leito e não retorne até dizer-me o que deveras almeja.
Às favas, maldito!
Tenha uma boa noite o senhor também e que assim seja e até mais ver.